Apresentação

José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora.

Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado, isto é, conscientizando-me da minha cidadania espiritual.

Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Formação: Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Lingüística


“A Doutrina Espírita é a bússola que me orienta no estabelecimento da rota da minha vida".



e-mail de contato: passinijose@yahoo.com.br

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Análise do livro A Vida Viaja na Luz

Análise do livro “A Vida Viaja na Luz”
Médium Carlos A. Baccelli
Ao longo desta análise, deveriam ser colocados entre aspas os nomes dos Espíritos citados, pelo fato de suas palavras e atitudes não nos convencerem da identidade a eles atribuída. Entretanto, para facilitar a redação deste texto, deixamos de fazê-lo.
Esse Espírito, que se fez passar pelo Dr. Inácio Ferreira, depois de achincalhar a mediunidade, de atacar os espíritas, de inventar materialização a partir de ectoplasma haurido de um cadáver de um bêbado, de inventar reencarnação no Mundo Espiritual, de usar uma linguagem absolutamente incompatível com a sobriedade, a dignidade e a nobreza da Doutrina Espírita, agora coloca-se, em linguajar bem mais moderado, como defensor do Chico, esquecido de que no livro “Chico Xavier Responde” colocou na boca do médium uma clara defesa ao aborto.
- É uma tentativa de lançar ao descrédito toda a mensagem dele, via mediúnica. Veja: contestam alguns livros de sua lavra psicográfica – tendo o visível intuito de que não sejam admitidos por complemento da Codificação... (22)
Se esse Espírito fosse realmente o ilustre Dr. Inácio Ferreira, deveria valorizar a obra do médium Chico Xavier, estudando e desdobrando as teses apresentadas por André Luiz, que se apresentam como um desdobramento da Codificação. Mas, numa tentativa de valorizar o trabalho equivocado do médium que lhe serve de instrumento, primeiro defende a tese de que Chico Xavier foi Kardec, e agora apresenta-se como médium de Chico, logo, do próprio Kardec, que viria complementar sua obra.
Quem estuda a obra de André Luiz tem uma visão clara de como se organiza a vida no Mundo Espiritual. O Dr. Inácio nunca se refere à bela organização delineada na comunidade “Nosso Lar” e noutras colônias, em que são ressaltados os valores espirituais, a vivência evangélica, a ordem, a seriedade, o merecimento, a obediência.
Os textos do livro serão transcritos em negrito. As páginas, entre parênteses.
- No outro dia, bem cedo, na companhia de Modesta e Manoel Roberto, fui ver, nas imediações do Hospital, uma chácara que conseguíramos em regime de comodato, para a realização de velho sonho. (25)
- O Hospital dos médiuns será a instituição mantenedora da Sociedade Protetora dos Animais “Francisco de Assis”!
– Uma Sociedade Protetora dos Animais no Além! (27)
- O Hospital dos Médiuns, do ponto de vista jurídico, responderá pela Sociedade “Francisco de Assis”. (30)
O Dr. Inácio, em seu consultório, encontrou sobre sua mesa uma carta confidencial de Chico Xavier, como se houvesse lá um serviço postal. (33-35)
Essa, uma das inúmeras tentativas que faz no sentido de tornar a vida espiritual semelhante à vivida na Terra, numa tentativa clara de minimizar as revelações de André Luiz. Depois, recebe um homem que havia sido condenado a 200 anos de prisão no Mundo Espiritual, e que havia obtido licença do juiz para uma consulta.:
- Jamais poderia supor que, na Vida de Além-Túmulo, a justiça funcionasse como funciona na Terra. Assim que me vi fora do corpo, deram-me voz de prisão e fui para uma penitenciária, onde fiquei aguardando julgamento. (49)
Observe-se a continuação do relato do madeireiro desencarnado:
-Conforme lhe disse, assim que me vi fora do corpo – tive oportunidade de ver meu corpo imóvel, caído no banheiro de uma das minhas propriedades -, dois detetives se aproximaram e me perguntaram se eu era o dono daquelas propriedades e da serraria.
- Os detetives pronunciaram o meu nome completo. Noutras circunstâncias, como fugi inúmeras vezes, eu teria fugido, mas... Eu tinha inúmeros contatos na polícia,Doutor! (50)
- Conforme lhe disse, deram-me voz de prisão e me algemaram.
- E você foi algemado?
- Conduzido na viatura?
-Levaram-me para o presídio. Tiraram-me as algemas, um médico me examinou e prescreveu alguns medicamentos. Devo ter dormido uns quatro ou cinco dias seguidos... (51)
A estória prossegue, dando-nos a impressão de que o Dr. Inácio tornou-se um novelista...
Mais adiante, diz que foi a Uberaba e, tendo materializado um ouvido e um olho (por que?), ouviu umas conversas de espíritas e presenciou algumas cenas triviais, cuja descrição, como muitas outras, serve apenas para encher páginas de livros. (58)
Lecionando bons costumes, diz de leu nos jornais (sic) da localidade onde habita:
- Você leu, nos jornais, a lei que foi aprovada recentemente? – Quem for pego jogando papel no chão, ou cuspindo, além de ser multado, será condenado a um mês de serviços comunitários! (60)
Difícil de comentar é a afirmativa da possibilidade de afogamento seguido de morte na colônia “Nosso Lar”. Depois da morte, o sepultamento, ou a cremação
- Será que, sem saber nadar, se algum de nós cair nas águas do Rio Azul, poderá se afogar e morrer? Doutor, se o corpo espiritual é dotado de sistema pulmonar e tudo mais, se continuamos a inflar os pulmões de oxigênio, a resposta é lógica: sim, poderá se afogar e morrer ! (87)
E não só morre, mas é enterrado ou cremado...
- Morre e é enterrado! Vai para o cemitério, ou, como neste Outro Lado, é mais comum, para o forno crematório! (119)
Mas como pode haver desencarnação se não há carne? Apesar do absurdo, o Dr. Inácio prossegue no seu raciocínio falacioso, aproveitando para reafirmar sua tese da reencarnação no Mundo Espiritual:
-Minha gente, reflita comigo. Se do Lado de Cá se morre, ou seja, desencarna-se, o que impede que também se reencarne? (119)
Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios (15: 40), faz distinção entre corpo carnal e corpo espiritual, demonstrando que este sobrevive à morte: “E há corpos celestes e corpos terrestres (...)”. Mas, O Dr. Inácio cita a passagem apenas pela metade, tentando confundir o leitor:
- “ ... também há corpos celestiais”! (121)
Continuando na sua campanha de disseminar descontentamento no meio espírita, faz acusações, como se houvesse algum órgão censor:
- Sim. Sob o pretexto, por exemplo, de pureza doutrinária, em substituição à fraternidade, a intolerância vem sendo adotada. Estamos quase a repetir os erros cometidos pela Igreja, no campo da censura às novas ideias com o cerceamento da liberdade de expressão. (133)
Logo adiante, o Dr. Odilon afirma justamente o contrário, ou estará fazendo um mea culpa em nome do Dr. Inácio e advertindo o seu médium?:
- É sumamente desagradável falarmos, mas os médiuns, notadamente os psicógrafos, deveriam ser mais comedidos. Nem todo médium nasceu para escrever sob a inspiração dos espíritos. Em consequência, pressionados pelas editoras, os médiuns perdem todo o critério de avaliação quanto ao que se refere à conveniência ou não de se publicar esta ou aquela obra de sua coautoria. (137)
No cap. 19, o Dr. Inácio faz uma interpretação curiosa da Parábola do Filho Pródigo, na qual se aventura como teólogo e produz afirmativas como esta, em que nega a encarnação como necessidade evolutiva, quando diz que só depois de o filho ter deixado a casa paterna é que necessitou da reencarnação (será esta uma nova versão da “queda dos anjos”?):
- Em tradução metafísica, deixando o Plano Etéreo, ele reencarna! Mergulha, de cabeça, na experiência da reencarnação! Até então, ele não possuía carma, estava isento! (158)
Note-se como é “terreno” o plano espiritual em que o Dr. Inácio se situa:
- Meu caro, por onde é que você andava? – perguntei ao Cássio.
- Por aí, Doutor.
- O que está fazendo agora?
- Lecionando e cuidando da Clínica.
- Você abriu uma clínica por aqui? (178)
Na obra “Nosso Lar” há uma observação de Lísias a André Luiz, no sentido de serem evitados comentários que não sejam construtivos. No livro “Fundação Emmanuel”, o Dr Inácio faz referência a um jornal, intitulado “Resenha”, que circularia naquela região, levando comentários feitos na Terra. Ao tomar conhecimento de apreciações que lhe foram desagradáveis, o Dr. Inácio dá uma banana aos espíritas que não concordam com suas teses. No livro em estudo, há uma afirmação equivocada, afirmando a existência de imprensa na colônia “Nosso Lar”, o que não é verdade:
- A lembrança de Altiva é interessante, Inácio- falou Modesta -, o pessoal que lê a obra “Nosso Lar” pouco comenta sobre a Imprensa no Mundo Espiritual. (179)
O Dr. Inácio, sempre diminuindo o valor dos espíritas, e dando-se importância...
- Ultimamente, muitos espíritas recém-desencarnados marcam consulta comigo. Não que estejam propriamente doentes, mas desejam ajustar certas ideias em conflito com a realidade da Vida, ante a qual se deparam na existência de Além-Túmulo. (184)
Esse Espírito, que se diz Dr. Inácio, moderou um tanto os ataques aos espíritas e as piadas que fazia em seus livros anteriores, mas não as deixou de todo, como se vê nesses diálogos que diz ter tido com um espírita recém-desencarnado:
- Você não podia: sorrir era contra a pureza doutrinária! Aliás, para muitos espíritas, fumar é mais contra a pureza da Doutrina do que contra a pureza dos pulmões!
O amigo agora passou a rir sonoramente.
- Eu mesmo, Doutor – ponderou -, já combati muito o hábito de se comer carne... Chego a este Outro Lado e percebo que certos espíritos...
- Espíritos , não – homens! – consertei.
- Correto. Percebo que muitos homens estão se desabituando aos poucos... (189)
Prosseguindo a conversa, passou a entrevistar o Espírito:
- Você é espírita?
- Sim, há mais de 40 anos...
- Desencarnou, e daí?
- Não aconteceu absolutamente nada. Estou na mesma
- Não volitou?
- Mal me arrastei e estou me arrastando...
- Come e dorme?
- E bebo água!
- Faz sexo?
- Faço!
- Com o que?
- Doutor, o senhor é louco!
- Responda.
- Com as coisas, ué!
- Você é espírito vampiro?
-Não, eu sou normal.
- Então, você faz sexo é com desencarnado?
- É! Pensou o quê? Eu não sou íncubo...
- Tem orgasmo?...
Bem, desculpem-me, mas o restante da entrevista é proibido para menores e não quero poluir a cabeça desse nosso pessoal beato, que considera pecado ter orgasmo num só lado da Vida, quanto mais nos Dois! (190-191)
Numa entrevista concedida a um jornal (sic) da colônia espiritual onde se encontrava, o Dr. Inácio declara algo inusitado, como o fato de um Espírito desencarnado normalmente não se lembrar de sua última encarnação:
-Se estamos vindo da Terra – de sua contraparte mais materializada -, por que não nos lembramos?
- Pela mesma razão que, ao reencarnar, o espírito não se recorda de onde vem! (202)
Imaginemos a confusão que causa em alguém que se está iniciando no Espiritismo, ao ter conhecimento de que um Espírito, que se diz médico e orientador de grupos espirituais, se apresente resfriado, com o nariz escorrendo:
Percebendo que eu estava com o nariz escorrendo, o companheiro me perguntou:
- O senhor se resfriou?
- Não sei – respondi - se é a “suína”, com a qual o pessoal anda preocupado lá embaixo, mas estou todo entupido, a cabeça pesada, respirando mal... (209)
- Logo pela manhã daquela quinta-feira, depois de me ter afastado do consultório por três dias consecutivos, a fim de me recuperar de um forte resfriado, Nelson compareceu para mais uma consulta. (227)
- Em toda a obra de André Luiz não há nem um relato de doença em Espíritos trabalhadores do Bem. O Dr. Inácio apresenta essa novidade.
A informação abaixo é errada, pois “Nosso Lar” é apenas uma das milhares de cidades espirituais. De fato, não se pode fazer paralelo com a paródia apresentada na obra:
-A referida colônia é uma organização sui generis ! Não se tem paralelo a respeito em nenhuma outra obra de cunho espiritualista, transmitida para a Terra mediunicamente. (213)
O capítulo 28 é dedicado a uma crítica ao Movimento Espírita Unificado, e aos espíritas em geral. Depois de muito se queixar do trabalho que tem como Diretor-Médico de um hospital, recusa-se a filiá-lo a uma entidade de unificação existente no Mundo Espiritual. Seu interlocutor, buscando aproximar-se do Dr. Inácio, se declara, também ele, maçom (sic). Imaginando que seu interlocutor falasse em intervenção no hospital, o Dr. Inácio, não perdeu a oportunidade para uma bravata:
-Não é meu receio, porque, primeiro, vocês teriam que passar por cima de mim. Enquanto eu estiver na direção deste nosocômio, exceto Jesus e os Maiores que nos orientam, ninguém se intromete. Nesse sentido, se fosse o caso, não hesitaria em recorrer aos préstimos de um bom advogado! (240)
Parece que o Dr. Inácio quer materializar o Mundo Espiritual a ponto de torná-lo inverossímil... Finalmente, depois de muita conversa, o Dr. Inácio sai-se com esta, como se circulasse dinheiro no Mundo Espiritual:
Vocês podem contar conosco, inclusive, se for o caso, com dinheiro para as promoções em pauta, mas não nos filiaremos. (243)
E continua com seus ataques à Unificação:
Quase me arrisquei a dizer que nos moldes com que vem sendo conduzido, o Movimento de Unificação é mais prejudicial do que útil ao Espiritismo. (244)
Usa todo o capítulo 29 para descrever uma conversa informal com a cozinheira do sanatório, o que dá ao leitor ideia de que o hospital está no plano físico... Além do mais, diz que a cozinheira chegara com a criança pela mão, com fome! Não é isso que se aprende com André Luiz, notadamente nas obras “Entre a Terra e o Ceu” e “Libertação”, relativamente a crianças desencarnadas.
- Lembra-se de como cheguei aqui, trazendo o Benedito pela mão? Medrosa e retraída feito uma cadelinha assustada... O senhor me olhou, brincou com o Benedito, perguntou se estávamos com fome e nos trouxe justamente para cá, a Cozinha – o senhor mesmo fez o prato do Benedito!...
-... que comeu feito um leão!
-Estávamos com fome, Doutor. A maioria das pessoas não sabe o que é passar fome e chegar escorraçada do mundo... (260)
Algo que não encontra explicação no livro é o fato de o Dr. Inácio receber cartas de encarnados e de desencarnados, como essa que ele responde abaixo:
“Confesso que as suas obras muito me têm auxiliado a entender o que André Luiz escreveu através de Chico Xavier. (...) E o senhor é o único espírito a defender a obra mediúnica de Chico Xavier – Não generalizando, a maioria não diz uma única palavra, a não ser para exaltar a si mesma! Receba meu abraço e bola para a frente!” (264 - 265)
Respondendo a carta recebida, ataca médiuns e o Movimento Unificador:
- O Espiritismo, meu amigo, para muita gente, hoje virou meio de vida. A inquisição que os “cardeais” do movimento vêm fazendo aos novos médiuns, no fundo, é luta pelo poder e – pasme! – pelo vil metal! Muitos deles, sem que percebam, estão sendo usados pelos lobos disfarçados de ovelhas... (268)
Mais adiante, continuando a resposta à “carta” que recebera, faz uma defesa da obra mediúnica de Chico Xavier, como se aquela que ele recebeu quando encarnado, como médium, estivesse sendo contestada. Mas a defesa que ele faz é dessas obras pretensamente atribuídas ao Chico desencarnado, recebidas por Baccelli, materializadas em aberrações como “Chico Xavier Responde”:
Mas, antes do ponto-final, preciso lhe dizer mais uma coisa: não duvide de que, no próprio meio espírita, haja uma conspiração contra as obras mediúnicas da lavra de Chico Xavier! (270)
No final de sua resposta, retoma aquele linguajar rasteiro dos seus primeiros livros:
- Seja você mesmo e, conforme disse, ”bola para a frente”! Permita-me apenas pluralizar a palavra “bola”, concitando-o a ser digno representante dos que, sem serem machistas, são machos o suficiente para dizerem o que pensam.
P.S: No que se refere à coragem do testemunho e verdadeiro amor à Causa, não posso deixar de reconhecer que, por seus ovários, muitas mulheres possuem mais “bolas” do que muitos homens! (271)
Depois de falar, noutras obras, em reencarnação no Mundo Espiritual, Dr. Inácio agora tenta amenizar a tese, misturando reencarnação com materialização, argumentando com o que relata André Luiz em “Nosso Lar” e em “Libertação”:
- Em suas bases o fenômeno é o mesmo; o que difere é o processo... daí, em passant, nós podermos conjeturar em torno da reencarnação nos diferentes planos espirituais da Vida, sem que, para tanto, o sexo concorra, nos padrões com que concorre na Terra, noutros mundos e dimensões. (287)
No cap. 36 há uma curiosa carta que Chico, desencarnado, teria dirigido ao Dr. Inácio. Sempre a tentativa do Dr. Inácio de “materializar” o Mundo Espiritual. (314)
Sempre atacando e ridicularizando os espíritas que estudam e que seguem uma linha moral :
- Os ortodoxos, no campo da Filosofia Espírita, estão impedindo o nosso povo de pensar – estão cometendo um crime! Essa turma de clérigos reencarnados, que se cansou de ajoelhar, mas não de ter os outros ajoelhados diante de si, acha que a Lei de Causa e Efeito funciona sozinha! Se fosse assim, também a Lei da Reencarnação também funcionaria – não haveria necessidade nem de relação sexual! O espermatozóide – eu não sei por que orifício -, sairia sozinho perguntando em cada esquina: - “Vocês viram um óvulo dando sopa por aí?...” Ora, não façam pouco da minha já tão pouca inteligência...
- Os espíritas precisam mesmo atualizar sua concepção de vida além da morte! (319)
Noutra tentativa de “materializar” a Vida Espiritual, fala de força policial no Além, que viria à Terra aprisionar Espíritos:
- Iremos, mas vou entrar em contato com o Dr. Elpídio, amigo meu e Delegado de Polícia, para que providencie um destacamento policial. Aquelas entidades necessitam ser presas! (319)
- Conforme combinado, Odilon veio me encontrar no hospital e, em companhia de Elpídio, previamente contatado por mim e mais três detetives sob o seu comando, partimos em direção à Crosta (324)
- Enquanto “descíamos”, fomos, naturalmente, integrando-nos no ambiente, de tal maneira a sermos identificados na condição de entidades recém-desencarnadas. Inalando fluidos menos rarefeitos, na atmosfera da Terra, promovemos relativa condensação em nossos corpos espirituais e, então, confundimo-nos com os transeuntes da cidade que visitávamos. (324)
“Confundimo-nos com os transeuntes”. Então materializaram-se, como disse no livro “Por Amor ao Ideal”, referindo-se a Edgar Alan Poe, que se teria materializado com o ectoplasma do cadáver de um bêbado e teria andado pelas ruas de Uberaba, a fim de consultar-se, como se fosse um paciente encarnado. Se é assim como fala o Dr. Inácio, fica difícil saber se estamos vendo um Espírito encarnado ou um desencarnado materializado!
Afinal, trata-se de um trabalho grosseiro, emanado de um Espírito que pretende informar equivocadamente aqueles que estão se interessando pelo Espiritismo, ao tempo que conta com a falta de cuidado daqueles que, conhecendo a Doutrina, nada fazem para coibir sua ação nefasta.
Com a palavra principalmente os responsáveis por centros, livrarias e clubes de livros espíritas pela divulgação de livros como esse.
José Passini
passinijose@yahoo.com.br

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Tolerância

“Trabalho, solidariedade e tolerância.”
Allan Kardec


Há pessoas que invocam a lapidar divisa de Kardec, na parte referente à tolerância, aplicando essa virtude no campo das publicações de livros que estão sendo editados sem o menor critério, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto à forma.
É evidente que a recomendação do Codificador se aplica ao relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, há inúmeras páginas de benfeitores espirituais a recomendarem o exercício constante dessa virtude no trato pessoal. Tolerância para com pessoas, não para com suas obras. Sobre estas, Kardec sempre exercitou o mais severo critério, recomendando se fizesse o mesmo, antes de se divulgar algo em nome do Espiritismo.
Será que em nome da tolerância deve-se publicar tudo o que vem por via mediúnica, a fim de não se melindrar o médium? Se não há oportunidade de análise, onde situar a célebre recomendação do Espírito Erasto, contida em “O Livro dos Médiuns” (230)?: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”?
E como aplicar o que Kardec recomenda no mesmo livro (266)?: “Em se submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, em se lhes perscrutando e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não lograrão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os bons espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são.”
Continuando, o Codificador cita recomendação do Espírito São Luiz:
"Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.”
Diante dessa concepção equivocada da tolerância, onde se situaria a recomendação de Jesus: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mt, 5:37)? E com Kardec aprende-se a refutar comunicações não condizentes com a estrutura doutrinária do Espiritismo.
Ser tolerante será que é dar a público tudo o que se produz mediunicamente, sem nenhuma avaliação, sem nenhum critério? E onde ficaria a recomendação de Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29)? Estaria o Apóstolo faltando com a tolerância? Além do mais, é de se notar que essa passagem está num trecho que o tradutor, João Ferreira de Almeida, entendendo o alcance da recomendação, intitulou: “A necessidade de ordem no culto”.
Entretanto, aqueles que zelam pela coerência, pelo nível de linguagem, pela manutenção da nobreza e da dignidade do discurso espírita são, não raro, tachados de intolerantes, e, por alguns articulistas atuais, de descaridosos e até de inquisidores.
A verdade é que há uma ânsia infrene de se publicar tudo o que se recebe – ou se supõe seja recebido mediunicamente –, sem uma análise criteriosa de conteúdo e de forma. Mas, quem analisaria o conteúdo e a forma dos escritos? Seria, por certo, uma equipe formada por pessoas equilibradas, conhecedoras da Doutrina, sabedoras de que estão dividindo sua responsabilidade com o médium. Seriam pessoas serenas, cônscias da alta responsabilidade que assumem perante o Alto, ao se tornarem corresponsáveis pela obra, e que, por isso mesmo, analisariam os textos, parágrafo a parágrafo, à luz da prece, quando obteriam de Jesus o amparo, no sentido de aumentar-lhes a lucidez, a serenidade e a noção de responsabilidade. Nesse círculo de alta responsabilidade é que deve ser exercitada a tolerância entre seus componentes, mas nunca em relação à obra.

Salvação ou Evolução?

“É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.” 1

Todos nós, Espíritos imortais, ao sermos criados, partimos de um mesmo ponto, recebendo como herança a capacidade de progredir, em medida absolutamente igual, em consonância com a indefectível justiça de Deus. Ao longo dos milênios sucessivos, através do esforço evolutivo individual, vamos revelando a luz divina que trazemos dentro de nós, conforme se depreende da recomendação de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...).” 2
Jesus não teria feito essa recomendação se não soubesse da existência dessa herança divina imanente em todos os seres, cantada com o nome de amor pelo poeta:
“O amor em nós, certo, existe /desde o nosso alvorecer, /remontando a priscas eras, /no esboço do nosso ser. /Em estado de latência, /no dealbar da existência, /Deus concede de antemão, /a sua herança bendita, /que a alma busca contrita /nas asas da evolução.” 3
A exteriorização mais ou menos intensa dessa herança divina que trazemos é que nos torna diferentes uns dos outros. Só dentro de uma perspectiva evolutiva é que podemos ver um silvícola feroz e um Francisco de Assis como filhos de um mesmo Deus justo, pois o que diferencia esses dois Espíritos não é a sua natureza, a sua origem, mas apenas evolução. As diferenças individuais se originam no homem, não em Deus.
A evolução do Espírito se efetiva através de inúmeras vidas sucessivas, que oferecem-lhe oportunidades variadas de incorporar em si as experiências que o meio lhe propicia, num processo que se pode chamar de desenvolvimento da inteligência e das virtudes que lhe são imanentes. Essa visão da evolução do Espírito é muito clara no Espiritismo.
Em outras religiões reencarnacionistas, a reencarnação é vista apenas como oportunidade de os Espíritos faltosos retornarem à Terra a fim de reparar seus erros ou de concluir aquilo que deixaram inacabado. Admitem, também, a reencarnação de Espíritos mais adiantados, que retornam ao mundo físico em missão, para ensinar o caminho do Bem. Essas religiões não têm a perspectiva evolutiva.
O Espiritismo não nega essas duas situações, indo, todavia, mais além, ensinando que não se reencarna só em missão ou resgate, mas que a reencarnação é absolutamente necessária, indistintamente, a todos os Espíritos, por ser inerente ao processo evolutivo.
Portanto, a reparação de faltas anteriormente cometidas não é vista como punição, mas como elemento essencial da escalada evolutiva rumo à perfeição, a que todos estamos sujeitos. Igualmente, no desempenho de missão sacrificial, o Espírito Superior que a leva a efeito não está fora do processo evolutivo, porque também ele está progredindo, embora nada deva à Terra, tendo o seu retorno sido motivado apenas pelo amor.
No Espiritismo, a reencarnação ocupa lugar de destaque, constituindo-se num dos pilares básicos de toda sua estrutura doutrinária, contrapondo-se frontalmente à tese salvacionista, ensinada por outros setores do Cristianismo. Em verdade, a respeito de salvação, o Espiritismo vai muito além de outras religiões, pois ao nos ensinar que não existem penas eternas, leva-nos a concluir que todos estamos salvos, porque somos cidadãos do Universo, filhos amados de Deus, habitantes da “Casa do Pai”, conforme ensinou Jesus.
Em verdade, o Mestre nunca apresentou soluções mágicas de salvação gratuita, com base apenas na fé. Pelo contrário, suas lições sempre foram no sentido de acordar a criatura para a necessidade de assumir sua vida, tomando em suas mãos as rédeas do seu próprio destino: “(...) renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” 4
São muitas as recomendações do Mestre no sentido de a criatura despertar para a necessidade de progredir: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” 5 e, mais adiante, continua a recomendação: “Sede, pois, vos outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.” 6
E por ser uma doutrina eminentemente evolucionista e não salvacionista é que o Espiritismo prioriza a oração consciente, o estudo, a reflexão, obediente à recomendação do Espírito da Verdade: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” 7
Assim, se bem atentarmos para a amplitude e profundidade dos ensinamentos de Jesus, veremos que, em última análise, seus ensinamentos se constituem numa ampla proposta de aperfeiçoamento do Espírito, num chamamento ao esforço individual, que não pode ser desenvolvido numa só vida. Por isso, quem medita sobre os ensinamentos e exemplos de Jesus encara o Evangelho não como um livro sagrado que deva ser lido de mãos cruzadas sobre o peito em atitude de reverência, mas o vê como um manual de evolução do Espírito, que traça um roteiro de luz, a ser seguido ao longo de milênios sucessivos.


1 – O Livro dos Espíritos, item 540 José Passini
2 – Mateus, cap. 5, vers. 16 passinijose@yahoo.com.br
3 – José Soares Cardoso (Acordes Espirituais)
4 – Mateus, cap. 16, vers. 24
5 – Mateus, cap. 5, vers. 44
6 – Mateus, cap. 5, vers. 48
7 – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 6, item 5














































SALVAÇÃO OU EVOLUÇÃO?


“É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.” 1

Todos nós, Espíritos imortais, ao sermos criados, partimos de um mesmo ponto, recebendo como herança a capacidade de progredir, em medida absolutamente igual, em consonância com a indefectível justiça de Deus. Ao longo dos milênios sucessivos, através do esforço evolutivo individual, vamos revelando a luz divina que trazemos dentro de nós, conforme se depreende da recomendação de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...).” 2
Jesus não teria feito essa recomendação se não soubesse da existência dessa herança divina imanente em todos os seres, cantada com o nome de amor pelo poeta:

“O amor em nós, certo, existe
desde o nosso alvorecer,
remontando a priscas eras,
no esboço do nosso ser.
Em estado de latência,
no dealbar da existência,
Deus concede de antemão,
a sua herança bendita,
que a alma busca contrita
nas asas da evolução.” 3

A exteriorização mais ou menos intensa dessa herança divina que trazemos é que nos torna diferentes uns dos outros. Só dentro de uma perspectiva evolutiva é que podemos ver um silvícola feroz e um Francisco de Assis como filhos de um mesmo Deus justo, pois o que diferencia esses dois Espíritos não é a sua natureza, a sua origem, mas apenas evolução. As diferenças individuais se originam no homem, não em Deus.
A evolução do Espírito se efetiva através de inúmeras vidas sucessivas, que oferecem-lhe oportunidades variadas de incorporar em si as experiências que o meio lhe propicia, num processo que se pode chamar de desenvolvimento da inteligência e das virtudes que lhe são imanentes. Essa visão da evolução do Espírito é muito clara no Espiritismo.
Em outras religiões reencarnacionistas, a reencarnação é vista apenas como oportunidade de os Espíritos faltosos retornarem à Terra a fim de reparar seus erros ou de concluir aquilo que deixaram inacabado. Admitem, também, a reencarnação de Espíritos mais adiantados, que retornam ao mundo físico em missão, para ensinar o caminho do Bem. Essas religiões não têm a perspectiva evolutiva.
O Espiritismo não nega essas duas situações, indo, todavia, mais além, ensinando que não se reencarna só em missão ou resgate, mas que a reencarnação é absolutamente necessária, indistintamente, a todos os Espíritos, por ser inerente ao processo evolutivo.
Portanto, a reparação de faltas anteriormente cometidas não é vista como punição, mas como elemento essencial da escalada evolutiva rumo à perfeição, a que todos estamos sujeitos. Igualmente, no desempenho de missão sacrificial, o Espírito Superior que a leva a efeito não está fora do processo evolutivo, porque também ele está progredindo, embora nada deva à Terra, tendo o seu retorno sido motivado apenas pelo amor.
No Espiritismo, a reencarnação ocupa lugar de destaque, constituindo-se num dos pilares básicos de toda sua estrutura doutrinária, contrapondo-se frontalmente à tese salvacionista, ensinada por outros setores do Cristianismo. Em verdade, a respeito de salvação, o Espiritismo vai muito além de outras religiões, pois ao nos ensinar que não existem penas eternas, leva-nos a concluir que todos estamos salvos, porque somos cidadãos do Universo, filhos amados de Deus, habitantes da “Casa do Pai”, conforme ensinou Jesus.
Em verdade, o Mestre nunca apresentou soluções mágicas de salvação gratuita, com base apenas na fé. Pelo contrário, suas lições sempre foram no sentido de acordar a criatura para a necessidade de assumir sua vida, tomando em suas mãos as rédeas do seu próprio destino: “(...) renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” 4
São muitas as recomendações do Mestre no sentido de a criatura despertar para a necessidade de progredir: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” 5 e, mais adiante, continua a recomendação: “Sede, pois, vos outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.” 6
E por ser uma doutrina eminentemente evolucionista e não salvacionista é que o Espiritismo prioriza a oração consciente, o estudo, a reflexão, obediente à recomendação do Espírito da Verdade: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” 7
Assim, se bem atentarmos para a amplitude e profundidade dos ensinamentos de Jesus, veremos que, em última análise, seus ensinamentos se constituem numa ampla proposta de aperfeiçoamento do Espírito, num chamamento ao esforço individual, que não pode ser desenvolvido numa só vida. Por isso, quem medita sobre os ensinamentos e exemplos de Jesus encara o Evangelho não como um livro sagrado que deva ser lido de mãos cruzadas sobre o peito em atitude de reverência, mas o vê como um manual de evolução do Espírito, que traça um roteiro de luz, a ser seguido ao longo de milênios sucessivos.



1 – O Livro dos Espíritos, item 540 José Passini
2 – Mateus, cap. 5, vers. 16 passinijose@yahoo.com.br
3 – José Soares Cardoso (Acordes Espirituais)
4 – Mateus, cap. 16, vers. 24
5 – Mateus, cap. 5, vers. 44
6 – Mateus, cap. 5, vers. 48
7 – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 6, item 5

O Silêncio das Religiões

Vivemos uma época de paradoxos: nunca se falou tanto em paz, mas nunca se ensinou tanto a guerra, a grosseria, a brutalidade, a violência. Como é possível criar uma sociedade pacífica, serena, nos modelos ensinados por Jesus, por Buda, por Francisco de Assis, por Ghandi, se desde a infância a criatura humana é submetida a um aprendizado de violência por meio áudio-visual em cores no cinema e no lar? Observem-se os desenhos animados, plenos de exemplos de brutalidade, de destruição, de desrespeito às coisas e à vida, que são apresentados às crianças na televisão e na internet. As cenas se sucedem, mostrando seres disformes, monstruosos, criaturas que se combatem e se destroem de modo espetacular, arruinando tudo o que está ao seu redor, através de socos, pancadas, raios, explosões. Pergunta-se como ensinar à criança a paz, a tranquilidade, o respeito às coisas e às criaturas, se lhe são apresentados exemplos que a induzem exatamente ao contrário? O resultado dessa sementeira de brutalidade e desumanização é visto todos os dias nas estatísticas, que apresentam o crescente número de desavenças, de agressões e de mortes.
Como será possível a uma criança chegar à condição de adulto sem tornar-se consumidora de alcoólicos, se a televisão faz uma pregação insistente sobre o prazer de consumi-los, em todos os horários, dentro dos lares, usando como pano de fundo a euforia do futebol, a alegria do convívio humano? Nesse particular, evidencia-se o imenso poder dos produtores de bebidas alcoólicas, que não só conseguiram manter sua propaganda na mídia, como ganharam o espaço anteriormente usado pelos produtores de cigarros. A batalha contra o fumo foi vitoriosa, colocando o Brasil bem à frente de países mais desenvolvidos. Entretanto, o fumo é bem menos lesivo à sociedade do que o álcool. O dano produzido pelo fumo se restringe quase que só ao seu usuário, enquanto que o do álcool é capaz de destruir uma família inteira. Por que não regulamentar a propaganda, a venda e o uso de alcoólicos como se fez com o fumo? Mas apesar de o uso do álcool ser muito mais danoso que o do fumo, não há legislação que obrigue os fabricantes de bebidas alcoólicas colocarem, nos seus produtos, avisos quanto aos malefícios do seu uso, conforme é exigido nas embalagens de cigarros.
E, por falarmos em propaganda danosa, o que dizer quanto à licenciosidade sexual, o que dizer sobre as aulas de prostituição que entram nos lares, em todos os horários? As cenas de intimidade vividas por casais são apresentadas em novelas exibidas à tarde e à noite. Alguns programas são apresentados em horário mais avançado, dado o nível de sensualidade que apresentam, mas as suas chamadas, os seus anúncios são feitos em todos os momentos. Há programas que não apenas são atentatórios aos bons costumes, à moral, à ética, mas à própria dignidade humana, onde se evidencia não só a licenciosidade, mas também a ausência de pudor, de senso de privacidade, este, um dos atributos que distingue o ser humano do restante da criação. Há programas humorísticos que pregam abertamente a promiscuidade, o desrespeito, o deboche, o uso do palavrão. O aviltamento da mulher se tornou tão comum que é olhado pelo viés humorístico. Há flagrante apoio à mulher leviana, despudorada, em detrimento da nobre figura da mulher-esposa, da mulher-mãe.
Mas, afinal, vivemos num país que se diz cristão. Será que o Cristianismo é para ser vivenciado apenas no interior das comunidades religiosas? Será que se deveriam isolar do mundo aqueles que não desejam compactuar com esse estado de coisas, ou lutar para que o mundo se torne compatível com os ensinamentos do Cristo? Se aqueles que desejam manter uma vida equilibrada, respeitosa pretenderem afastar-se do convívio com a sociedade, como interpretariam a recomendação de Jesus, registrada por dois evangelistas: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...)” (Mt, 10: 16) e “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Lc, 10: 3)?
Diante da recomendação de Jesus, não devemos criar ilhas onde se viva cristãmente, mas devemos trabalhar no sentido de cristianizar todos os lugares.
Como nos sentiríamos se, subitamente, aparecesse Jesus ao nosso lado, quando nossas crianças estão vendo certos desenhos, ou estamos assistindo a algumas dessas novelas, desses filmes ou algum desses programas?
E o que estão fazendo as religiões no sentido de despertar as criaturas para uma mudança de atitude, a fim de que assumam sua real posição diante do Cristo? Será que o papel das religiões é levar seus fiéis a pensarem em Deus, ouvindo enternecidamente comentários sobre os ensinamentos de Jesus, somente no interior dos templos, em momentos sagrados? Mas Jesus nunca separou a vida em momentos sagrados e momentos profanos. De acordo com os Seus ensinos, os princípios éticos e morais devem permear todos os atos da vida, em todos os ambientes. Portanto, é premente a necessidade de se despertar o homem para o esforço de proceder de conformidade com esses ensinamentos, em todas as circunstâncias da vida, conforme Ele ensinou e exemplificou. Logo, as religiões devem esclarecer o homem no sentido de não esperar o Céu depois da morte, mas de construí-lo aqui, em todos os ambientes, principalmente dentro de si mesmo, desde agora.
E como estamos procedendo nós, espíritas, nesse cenário caótico em que vivemos? As casas espíritas estão promovendo reflexões sérias que nos levem a nos situarmos na vida como espíritos imortais temporariamente encarnados? Estamos tendo oportunidade de avaliação das propostas da televisão, do cinema, do teatro, da literatura ante nosso futuro no Mundo Espiritual? Lembremo-nos de que, se o Espiritismo não nos atemoriza com o Inferno, também não nos oferece um Ceu conquistado sem esforço no Bem. A verdade é que também nós estamos um tanto acomodados diante do panorama atual, pois raras vozes se erguem para denunciar esse tremendo antagonismo entre o que nos oferece a mídia, e as diretrizes de conduta ensinadas no Evangelho.
Portanto, diante dessa ruína moral que se vê na atualidade, é de se perguntar onde estão as vozes dos condutores de almas, onde estão as vozes das religiões que silenciam diante de tanta ignomínia? Será que aguardam a volta de João Batista?

José Passini
passinijose@yahoo.com.br

O Cristianismo do Cristo e dos Teólogos

 
Observados atentamente os ensinamentos e os exemplos de Jesus, contidos no Novo Testamento, chega-se à conclusão que o Mestre não fundou religião alguma. A mensagem cristã é um forte apelo no sentido de reconhecermos a paternidade divina e, ao mesmo tempo, de nos reconhecermos como irmãos. Jesus apenas propôs que nos amássemos uns aos outros, mostrando-nos que o caminho para Deus é o próximo, deixando claro que só poderemos demonstrar nosso amor a Deus amando-Lhe os filhos: “Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I João, 4: 20). Ensinou que a busca de convivência pacífica entre as criaturas é mais agradável a Deus do que qualquer tipo de oferenda que Lhe possamos fazer: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.” (Mateus, 5: 23 e 24). E, no versículo seguinte, Mateus registrou outra recomendação referente à convivência: “Concilia-te depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele (...).”
Exemplificou que o “amor ao próximo como a si mesmo” não deveria ser interpretado apenas como preceito abstrato, demonstrando sua prática através da “Parábola do Bom Samaritano” (Lucas, 10: 25 a 37). Além do mais, deixou recomendação geral no sentido de se socorrer o próximo, como Ele o fazia: “... e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.” (Marcos, 16: 18).
Jesus nunca disse que ofereceria seu sangue a Deus para salvar a Humanidade.
Não instituiu culto, ritual ou cerimônia de qualquer espécie.
Não ministrou sacramento algum, nem orientou no sentido de que alguém o fizesse.
Não sacralizou lugar algum.
Não aconselhou a construção de templos, de lugares especiais à vivência religiosa, nem a frequência àqueles que existiam. Só fez referência a um lugar, relativamente à oração: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará.” (Mateus, 6: 6)
Não recomendou qualquer tipo de indumentária.
Não estabeleceu classes de servidores.
Não nomeou intermediários entre o homem e Deus.
Não ensinou cânticos ou ladainhas; pelo contrário, advertiu quanto à repetição inconsciente de uma oração: “Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mateus, 6: 7).
Jamais recebeu qualquer retribuição material pelo que fazia às pessoas.
Não usou velas, nem fumaça, nem bebida.
Não deixou fórmulas para serem lidas durante cerimônias.
Não ensinou a orar diante de imagens.
Essas práticas, todas estranhas aos ensinamentos e aos exemplos de Jesus, foram sendo, pouco a pouco, introduzidas no movimento cristão pelos teólogos e por aqueles que detinham poder no meio religioso que se formou a partir de então. Além das interpretações tendenciosas e alienantes que produziram, foram incapazes de coibir o uso de imagens esculpidas e pintadas, em que os protetores espirituais – chamados anjos – se apresentassem com aquelas enormes asas.
Esses fatos são constatados sem que se lance acusações sobre outros, mesmo porque, de acordo com a consciência de imortalidade e de reencarnação que o Espiritismo suscita aos seus adeptos desenvolverem, ninguém poderá levantar libelos acusatórios contra aqueles que os antecederam na romagem terrestre, pois poderia estar acusando a si próprio. Em verdade, quem poderá, em sã consciência, afirmar que não tomou parte em ações que redundaram no desvirtuamento das lições de Jesus?
Como é que se conseguiu criar um Inferno de penas eternas, depois de Jesus ter ensinado tantas vezes que devemos nos perdoar uns aos outros? Por que teria Jesus contado a sublime “Parábola do Filho Pródigo”, em que põe em evidencia a virtude do perdão, exercitada por um pai terreno? Estaria o Mestre incentivando a criatura a ter misericórdia maior do que a do próprio Criador?
Jesus sabia que haveria uma tendência ao desvirtuamento de suas lições, por isso deixou algumas recomendações: Quanto ao isolamento em comunidades apartadas do convívio social: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...)” (Mateus, 10: 16). Essa recomendação foi também registrada por outro Evangelista: “Ide: eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Lucas, 10: 3) E quanto ao profissionalismo religioso, deixou recomendação muito clara: “... de graça recebestes, de graça dai.” (Mateus, 10: 4)  
Como é que foi criado o dogma da ressurreição da carne, em oposição flagrante às declarações de Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios, cap. 15, onde fala em ressurreição em corpo espiritual? “Mas alguém dirá Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão? (35) “Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção.” (42) Paulo, para ser melhor entendido, faz uma comparação entre o corpo físico e o corpo espiritual: o corpo físico é a semente que será enterrada, e o corpo espiritual é a planta, que se liberta: “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” (44) Além disso, prevendo a criação do dogma da ressurreição da carne, diz, chamando o corpo físico de corruptível, e o corpo espiritual de incorruptível: “E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção.” (50)
Sabendo disso, é que precisamos, mais do que nunca, do exercício consciente do “Vigiai e orai para não cairdes em tentação (...)” (Mateus, 16: 41), recomendado por Jesus. Devemos ter em mente que o Mestre nos enviou o Espiritismo na condição de o Consolador prometido: “Vos enviarei o consolador, que vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito.”
Se bem interpretarmos essas palavras, registradas por João, nos capítulos 14 e 16 do seu Evangelho, veremos ali as duas vertentes principais do Espiritismo: o retorno aos ensinamentos e aos exemplos de Jesus, e os esclarecimentos que Ele não pudera dar, por falta de maturidade das pessoas àquela época.  
                                                                                                           José Passini
                                                                                               passinijose@yahoo.com.br
 
 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Liberdade

José Passini
passinijose@yahoo.com.br

O desejo de ser livre é inato. É tão inerente à criatura, que se pode dizer que faz parte da herança divina concedida desde a sua criação. A busca da liberdade, no ser humano, é tão natural como o é a busca da luz pela planta. É seguramente o anseio pela liberdade um dos impulsos mais fortes dentre os experimentados por todos os que têm a capacidade de sentir.
Entretanto, se é verdade que esse desejo sagrado do exercício da própria liberdade é inerente ao ser humano, não menos verdade é que os espíritos ainda dominados pelo egoísmo buscam cercear a liberdade dos outros.
Quantas guerras foram feitas exatamente na negação desse nobre sentimento, quando povos poderosos impunham sua dominação sobre outros, num flagrante desrespeito ao legítimo anseio de liberdade? Quantos indivíduos e povos se sublevaram, inconformados com a tirania, com a opressão, a que foram submetidos?
Se, nesses dois mil anos que se passaram desde as pregações de Jesus, houvessem sido postos em prática os ensinamentos do seu Evangelho, o homem teria aprendido que a sua liberdade termina exatamente onde começa a do seu próximo, e que não lhe é lícito impor a outrem aquilo que não quer para si.
No tempo de Jesus, nem a liberdade de a criatura relacionar-se com o Criador era observada. Havia uma clara agressão à liberdade, não só de culto, mas da própria crença. O Mestre, que a todos respeitou, nunca impondo nada a ninguém, não teve a sua liberdade de pensamento respeitada. Sofreu o peso da opressão daqueles mesmos que clamavam a Deus contra a dominação romana. Como podiam pedir a Deus uma libertação do jugo estrangeiro, se não reconheciam o direito de ser livre em seus próprios concidadãos?
Jesus foi acusado e condenado por ensinar que somos todos livres, e que, perante Deus, todos temos o mesmo direito. E é tão fácil entender que, se somos todos filhos de um mesmo Pai justo, temos todos o inalienável direito a igual quinhão de liberdade.
Entretanto, nem mesmo a nobre lição de Jesus conseguiu que se banisse da Terra a prática nefasta de se negar à criatura o direito de se relacionar livremente, como bem lhe aprouvesse, com o seu Criador. Quanta perseguição religiosa conheceram os séculos posteriores, em nome do maior libertador de consciências que o mundo conheceu?
Ao examinarmos os maus exemplos religiosos, podemos compreender por que pôde a nossa civilização cristã ter abrigado algo tão ignominioso como a escravidão. Como puderam, aqueles que pregavam a mensagem do Cristo, conviver com essa violação do direito de ser livre?
Hoje, passado mais de um século do fim desse jugo desumano, devemos parar e meditar, a fim de avaliarmos se a nossa civilização cristã, já no curso do terceiro milênio, aprendeu a respeitar integralmente a liberdade do próximo.
Somos livres para fazer tudo o que quisermos, desde que não interfiramos no direito do outro. Quando o uso da nossa liberdade interfere negativamente na vida do nosso próximo, incorremos em falta perante as leis eternas. Por isso, é necessário usarmos a nossa liberdade com sabedoria, a fim de não nos tornarmos vítimas de equívocos.
Entretanto, há muita confusão entre liberdade e libertinagem. Quantos, em nome da liberdade de expressão agridem outras pessoas através do mau uso da palavra? E o que dizer daqueles que, noite a dentro, no pretenso uso da sua liberdade, desrespeitam o direito ao sono de outras pessoas? Quantos, usando da liberdade de dirigir seu carro, não imprimem velocidade excessiva, pondo em risco a vida do seu semelhante?
Entretanto, é lícito se pergunte se uma sociedade, que cultiva os ideais de liberdade, tem o direito de encarcerar alguém. Pode parecer um paradoxo que as civilizações mais avançadas, onde os conceitos de liberdade são os mais profundos, possam prever a restrição de liberdade de uma criatura, encarcerando-a. Todavia, essa atitude, se olhada sob outro prisma, pode ser vista como a defesa do direito de outras criaturas, prejudicadas Trpelo mau uso da liberdade por parte daquele que ainda não aprendeu a viver livremente.
O exemplo maior a respeito do uso da liberdade foi dado por Jesus, que nunca invadiu a área de decisão de quem quer que fosse. Ele foi, sem sombra de dúvida, o Espírito que mais respeitou a liberdade do próximo, nunca impondo nada a ninguém! Seus ensinamentos sempre foram lançados como sementes do Bem e da Verdade, sem a exigência de que a criatura os assimilasse imediatamente e se modificasse da noite para o dia. Por sentir, em profundidade, essa postura do Mestre é que Paulo disse: “... onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. (II Co, 3: 17).
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo, 8: 32). Com tal afirmativa, o Mestre certamente nos quer dizer que a verdadeira liberdade é aquela do Espírito, nascida da compreensão, do entendimento das leis da vida, pois à medida que o Espírito conhece a verdade, aprende a usar a sua liberdade com sabedoria, em consonância com os princípios de respeito à liberdade do próximo.
Mas, muitos se dizem livres e, por não conhecerem a Verdade, são escravos de paixões, do álcool, do fumo, de drogas, do sexo, da gula. A criatura que busca a Verdade, através do estudo e da meditação, vai-se libertando de jugo de interesses transitórios e ligando-se àquilo que tem importância para ela diante da Eternidade.
Quantos se dizem livres e são escravos da propaganda? É exatamente pela falta de reflexão que o homem se escraviza à moda, ao consumismo, tudo isso em nome da liberdade de escolha.
O ser humano, por falta de uma visão mais profunda da vida, está sempre tentando usar a sua liberdade em detrimento do direito do seu próximo. Não é exemplo disso a atitude de criaturas que, diante de uma gravidez indesejada, dizem: “Sou uma criatura livre. Tenho direito de decidir sobre o meu corpo, a minha vida me pertence.” Entretanto, não se lembra que aquele ser cujo corpo está se formando em seu seio, pode dizer que também ele tem direito à vida, à liberdade de viver.
Uma pessoa sensata sempre deve pensar: “Será que a minha liberdade não estará esbarrando na liberdade, no direito do meu próximo?” “Será que estou observando, em relação aos outros, o mesmo direito que desejo seja observado em relação a mim?”

Cobrança

“... de graça recebestes, de graça daí.”
Jesus (Mt, 10: 8)


Vez por outra, discute-se no meio espírita a questão do pagamento de taxa de inscrição para participação em eventos doutrinários. É tema delicado, que envolve muitas situações particulares e, às vezes, se choca frontalmente com opiniões até apaixonadas de alguns irmãos. Por isso, merece a atenção e a preocupação daqueles que se propõem ao trabalho espírita, mantendo as atividades sob a sua responsabilidade dentro dos parâmetros saudáveis que não são facilmente verbalizáveis numa lista de “permitido/proibido”, mas intuitivamente sentidos por aqueles que buscam agir com equilíbrio e bom-senso.
É imprescindível tenhamos cuidado constante, muita vigilância e apoio na oração, na busca de diretrizes do Alto, a fim de não levarmos o Movimento Espírita a incidir nos mesmos desvios sofridos pelo Movimento Cristão que, vagarosa e imperceptivelmente se tornou uma religião institucionalizada, hierarquizada, na qual o trato com valores monetários passou, da contribuição espontânea para assistência aos mais necessitados, à fixação de taxas disfarçadas sob vários nomes, encaminhadas para a manutenção do profissionalismo, construção de prédios e acumulação de riquezas.
Necessário se faz que nós, que abraçamos a Doutrina Espírita – e que temos a certeza inabalável da sua missão de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais – avaliemos as ações que estão na nossa esfera de decisão, com vistas aos reais objetivos do Espiritismo.
Entre os extremos de dar tudo de graça – inclusive livros – e cobrar entrada ou taxa de inscrição para palestras, simpósios, seminários, há um meio-termo ideal, ditado pelo bom-senso.
Mesmo no tocante ao livro, devemos tomar cuidado para que não se estabeleça uma comercialização exacerbada, em detrimento da qualidade das obras, como, lamentavelmente, já se vê. O produto da venda do livro espírita deve objetivar o ressarcimento dos custos, ou a manutenção de atividade social. Infelizmente, não é o que se constata em muitos casos, diante do alto preço de obras – algumas de qualidade duvidosa, sob o aspecto doutrinário – que têm sido lançadas no mercado ultimamente, muitas das quais vendidas em livrarias ou centros espíritas, cujos dirigentes, muitas vezes, tentados pela obtenção de recursos para melhoria de instalações para ou trabalho assistencial, deixam de examiná-las criteriosamente. Não estamos defendendo, com isso, o estabelecimento de um “index”. Só nos move a lembrança de que uma instituição espírita ao divulgar uma obra está – para a maioria das pessoas – dando-lhe aval doutrinário.
O ideal seria que as editoras fossem sociedades civis, dirigidas por conselhos não-remunerados, como acontece nos centros e outras entidades espíritas. Conforme as conveniências, os livros poderiam ser confeccionados em empresas especializadas e as entidades espíritas promoveriam a sua venda a preços capazes de apenas manter as editoras funcionando. Somente os profissionais dessas sociedades seriam assalariados para a prestação de serviços específicos, como existem em muitas entidades espíritas.
Quanto ao pagamento de taxa de inscrição, há pessoas que argumentam não terem as casas espíritas fundos suficientes para cobrir despesas com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, argumentam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição.
Será que não há outros meios de se resolver o problema? Sempre chamamos a atenção de companheiros de ideal, dirigentes de casas espíritas, para o fato de necessitarmos de colaboradores financeiros, a fim conseguir recursos para o pagamento de despesas, como água, luz, telefone, material de limpeza, conservação do imóvel, etc. Há grupos espíritas que têm excesso de escrúpulos no sentido de pedir ao público em geral, levando o ônus financeiro a alguns poucos. Neste particular, lembramos Emmanuel, que aconselhou: “As obras espíritas devem ser mantidas com o pouco de muitos e não o muito de poucos.”
Concordamos que determinados eventos demandam grande movimentação financeira, entretanto cremos que há outros meios, que não sejam o de pura cobrança de taxa de inscrição ou ingresso. São procedimentos mais trabalhosos, mas parece-nos serem mais féis à maneira espírita de agir.
Por exemplo: planeja-se um seminário para algumas centenas de pessoas. Sabemos que há custos: material para estudo, pastas, e, às vezes, aluguel de auditório, serviço de som, etc. Nesse caso, por que não fazer um levantamento prévio dos custos e solicitar a contribuição sigilosa e espontânea daquele que se inscreve, alertando que, se todos pudessem pagar, o custo “per capita” seria tal, mas como nem todos dispõem de recursos, pede-se um pouco mais daqueles que podem doar.
Não se estaria assim evitando uma seleção de participantes com base no poder monetário? Como ficaria a situação de uma família que, integrada no movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa?
Alguém, num juízo apressado, poderá dizer que não dará certo, vez que as pessoas não estão preparadas para uma contribuição espontânea. Nesse caso, achamos que seria necessário inicialmente um longo trabalho educativo dessa comunidade, a fim de sensibilizá-la para o exercício da fraternidade cristã, o que significaria uma boa base para o posterior aproveitamento de seminários mais teóricos.
Se medidas como essas não derem certo, é porque aquela comunidade espírita ainda não está suficientemente madura para empreendimentos mais amplos. Carece-lhe base. Nesse caso, seria preferível a não-realização do evento. O prejuízo para a divulgação da Doutrina Espírita seria menor.
Lembremo-nos de que Paulo divulgava o Cristianismo viajando a pé, trabalhando em teares alugados, hospedando-se em casa de irmãos, falando diante de pequenos grupos. A divulgação do Cristianismo foi feita num trabalho de “contaminação” quase que de pessoa para pessoa. Não devemos perder isso de vista. Não desejemos trabalhos de “massificação” no Espiritismo. Sua maior propaganda é feita pelo testemunho de vivência pessoal dos espíritas. Lembremo-nos de que, durante mais de um século, o Espiritismo divulgou-se sem cobrança de inscrições e de ingressos e sem essa comercialização desvairada de livros... E divulgou-se muito, de maneira segura. E quando nos assalte a dúvida, é só olharmos para os imensos patrimônios materiais que os nossos predecessores nos deixaram e imaginarmos como eles conseguiram isso tudo.

José Passini
Juiz de Fora MG
passinijose@yahoo.com.br