Apresentação

José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora.

Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado, isto é, conscientizando-me da minha cidadania espiritual.

Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Formação: Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Lingüística


“A Doutrina Espírita é a bússola que me orienta no estabelecimento da rota da minha vida".



e-mail de contato: passinijose@yahoo.com.br

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Tolerância

“Trabalho, solidariedade e tolerância.”
Allan Kardec


Há pessoas que invocam a lapidar divisa de Kardec, na parte referente à tolerância, aplicando essa virtude no campo das publicações de livros que estão sendo editados sem o menor critério, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto à forma.
É evidente que a recomendação do Codificador se aplica ao relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, há inúmeras páginas de benfeitores espirituais a recomendarem o exercício constante dessa virtude no trato pessoal. Tolerância para com pessoas, não para com suas obras. Sobre estas, Kardec sempre exercitou o mais severo critério, recomendando se fizesse o mesmo, antes de se divulgar algo em nome do Espiritismo.
Será que em nome da tolerância deve-se publicar tudo o que vem por via mediúnica, a fim de não se melindrar o médium? Se não há oportunidade de análise, onde situar a célebre recomendação do Espírito Erasto, contida em “O Livro dos Médiuns” (230)?: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”?
E como aplicar o que Kardec recomenda no mesmo livro (266)?: “Em se submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, em se lhes perscrutando e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não lograrão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os bons espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são.”
Continuando, o Codificador cita recomendação do Espírito São Luiz:
"Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.”
Diante dessa concepção equivocada da tolerância, onde se situaria a recomendação de Jesus: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mt, 5:37)? E com Kardec aprende-se a refutar comunicações não condizentes com a estrutura doutrinária do Espiritismo.
Ser tolerante será que é dar a público tudo o que se produz mediunicamente, sem nenhuma avaliação, sem nenhum critério? E onde ficaria a recomendação de Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29)? Estaria o Apóstolo faltando com a tolerância? Além do mais, é de se notar que essa passagem está num trecho que o tradutor, João Ferreira de Almeida, entendendo o alcance da recomendação, intitulou: “A necessidade de ordem no culto”.
Entretanto, aqueles que zelam pela coerência, pelo nível de linguagem, pela manutenção da nobreza e da dignidade do discurso espírita são, não raro, tachados de intolerantes, e, por alguns articulistas atuais, de descaridosos e até de inquisidores.
A verdade é que há uma ânsia infrene de se publicar tudo o que se recebe – ou se supõe seja recebido mediunicamente –, sem uma análise criteriosa de conteúdo e de forma. Mas, quem analisaria o conteúdo e a forma dos escritos? Seria, por certo, uma equipe formada por pessoas equilibradas, conhecedoras da Doutrina, sabedoras de que estão dividindo sua responsabilidade com o médium. Seriam pessoas serenas, cônscias da alta responsabilidade que assumem perante o Alto, ao se tornarem corresponsáveis pela obra, e que, por isso mesmo, analisariam os textos, parágrafo a parágrafo, à luz da prece, quando obteriam de Jesus o amparo, no sentido de aumentar-lhes a lucidez, a serenidade e a noção de responsabilidade. Nesse círculo de alta responsabilidade é que deve ser exercitada a tolerância entre seus componentes, mas nunca em relação à obra.

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