Apresentação

José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora.

Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado, isto é, conscientizando-me da minha cidadania espiritual.

Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Formação: Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Lingüística


“A Doutrina Espírita é a bússola que me orienta no estabelecimento da rota da minha vida".



e-mail de contato: passinijose@yahoo.com.br

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Educação Espírita

O Espiritismo veio ao mundo através da Ciência. Kardec, ao se debruçar sobre os fenômenos que lhe foram apresentados, não o fez com unção religiosa, prejudicada por qualquer visão sectária. Examinou os fenômenos como pesquisador, valendo-se de critério científico, aplicando o método experimental com clareza de raciocínio, a fim de não se perder no deslumbramento do novo mundo que se lhe revelava através dos diálogos extraordinários que mantinha com os Espíritos. Entretanto, depois de constatada cientificamente a veracidade da existência e da comunicabilidade dos Espíritos, teve o Missionário o discernimento que lhe permitiu não se deter apenas no campo experimental. Entendeu, desde logo, que a Revelação Espírita tinha finalidade mais ampla e mais nobre do que a simples comprovação da imortalidade e a comunicabilidade dos Espíritos.
Deixando o campo científico para outros Espíritos que vieram em sua equipe, deteve-se no campo filosófico, onde dialogou com os Espíritos, propondo-lhes questões a respeito de Deus, da Criação, da Criatura, dos problemas do ser, do destino e da dor.
Poderia Kardec ter-se projetado como teólogo e ter-se perdido, como tantos outros, nos sinuosos caminhos das intermináveis discussões a respeito de cosmogonia, cristologia, exegese bíblica e tantos outros temas tão a gosto de muitos filósofos e teólogos.
Mas, o Missionário não se reencarnara para enriquecer, dessa forma, a galeria dos filósofos, nem dos teólogos, limitando sua atuação apenas ao campo da teoria. Não. Antes mesmo de os Espíritos lhe revelarem o caráter da sua missão, ele já agia em função do compromisso assumido com Jesus, no sentido de trazer de volta o Evangelho, na sua feição de obra libertadora, logo educadora. Embora não filiado a nenhum grupo religioso, era profundamente cristão, repartindo com o próximo aquilo que tinha – o saber, ministrando, gratuitamente, aulas noturnas a grupos de jovens que se preparavam para a universidade.
É de se notar que o Espiritismo veio tirar o halo de misticismo inoperante, extático que fora imposto à mensagem cristã, devolvendo-lhe a simplicidade encantadora, o dinamismo profundamente atuante na vida diária da criatura humana.
Já houve quem questionasse o caráter religioso do Espiritismo pelo fato de não ter lugares considerados sagrados, como templos, santuários, de não ter culto externo, de não ter sacerdócio organizado, nem ministrar sacramentos. Em verdade, o Espiritismo não tem nada disso, mas nem por isso deixa de ser religião. Se, para que uma religião se legitime como tal, é necessário que inclua essas práticas e possua templos, então Jesus não trouxe mensagem religiosa alguma.
Considerando-se Jesus a maior expressão religiosa de todos os tempos, e analisando-se a Sua atuação, diante daquilo que foi apresentado como religião nos séculos subsequentes, chega-se a uma pergunta: o que é religião? Será um conjunto de práticas desenvolvidas no interior dos templos, ou uma prática de vida, capaz de fazer a criatura crescer espiritualmente, pela educação?
Que é educação? Será algo a ser imposto ao Espírito? Ou será incentivo para que ele revele a luz que traz em si por herança divina? O verbo educar, na sua origem, significa tirar para fora. Jesus, dialogando com seus contemporâneos, ensinando a origem divina comum a todos, perguntou-lhes: “Não está escrito na vossa lei: eu disse: sois deuses?” No Sermão do Monte, recomenda: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.”
Toda a mensagem religiosa de Jesus se fundamenta no esforço da criatura no sentido de revelar essa herança divina que todos trazemos. Nada de graças, além da graça da vida. Nada de privilégios. “... e então dará cada um segundo as suas obras.”
A educação religiosa que Jesus propicia ao homem leva-o a conscientizar-se de que não será através de orações repetidas que estaremos agradando a Deus: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” Nem através de oferendas ou bajulações: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta.”
“O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que fornecer-lhe o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.” Por essa citação, vê-se que o enfoque educacional da Doutrina Espírita é diferente, por considerar a criança não como um ser, cuja vida começou no ventre materno, mas um Espírito imortal, dotado de bagagem própria, individual, que se irá manifestando à medida que o corpo o permita. Por isso é que, conscientes de que o Espírito está com o seu passado amortecido, beneficiado pelo esquecimento, aqueles que procuram educar a criança à luz dos ensinamentos espíritas buscam não perder tempo, aproveitando essa fase de aceitação de novas informações, a fim de sensibilizá-lo em relação às verdades e à noção de valores trazida pelo Evangelho, para que, mais tarde, quando as tendências de sua bagagem aflorarem, o espaço já esteja ocupado, pelo menos parcialmente, pelas idéias renovadoras, conforme nos ensinam os Espíritos Superiores, em resposta a Kardec: “Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais sensível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”
Educadores modernos valorizam a educação desde o nascimento. A educação, à luz do Espiritismo, reconhece isso e vai um passo além, lembrando à mãe que ela deve dialogar com o nascituro desde que se percebeu grávida, pois esse novo ser é, em verdade, um Espírito imortal, antigo aluno da escola da Terra, rematriculado agora, envergando um novo uniforme. A noção de imortalidade que o Espiritismo faculta ao homem abre-lhe a possibilidade de desenvolver um estado de consciência que se poderia chamar de cidadania espiritual. Esse estado de consciência leva-o a aprender, desde cedo, que o túmulo não representa, nem uma desgraça, nem a solução de problemas internos do Espírito. Representa apenas uma mudança de estado, de encarnado para o de desencarnado, uma mudança de residência, para onde o Espírito leva o produto dos seus trabalhos evolutivos, seus méritos e deméritos.
A educação espírita nos ensina que Deus é justo e, como tal, cria todos os seus filhos dotados da mesma capacidade de progredir. Não há privilégios. Em princípio somos todos iguais. As diferenças individuais correm por conta do degrau evolutivo em que o Espírito se encontra.
A educação espírita é voltada no sentido de derrubar as fronteiras milenares que separam o sagrado do profano, o celeste do terrestre, levando o homem à aplicação dos princípios ético-morais do Evangelho em todas as situações da vida, conforme Jesus ensinou e exemplificou. Moralmente, não há diferença nem mesmo entre o material e o espiritual. A vida material e a espiritual são vistas apenas como oportunidades distintas, deferidas ao Espírito imortal, mas não como situações capazes de legitimar posturas ético-morais diferentes.


José Passini
Josepassini@yahoo.com.br

Best Sellers Mediúnicos

Best Sellers Mediúnicos

A publicação de livros mediúnicos tem crescido vertiginosamente. Na primeira década deste milênio, o volume aumentou de modo a chamar atenção de muitos médiuns e a excitar o desejo de lucro da parte de determinadas editoras. Entretanto, a par desse crescimento editorial, a qualidade decresceu na mesma proporção. Há livros cuja tônica é o ataque sistemático a dirigentes espíritas e ao ingente trabalho de Unificação. Outros, se constituem em descrições mórbidas de zonas espirituais inferiores, com detalhamento de monstruosidades, do poder das Trevas, sem apontar caminhos e soluções para tal estado de coisas. Alguns há que trazem sutis mensagens de desvalorização do estudo, do esforço de auto-aprimoramento, veiculadas em linguagem pretensamente psicológica, conducente ao desencanto. Há ainda outros que, num discurso estéril, como arqueólogos espirituais, se lançam à pesquisa de quem foi quem, provocando discussões que só contribuem para o descrédito da Doutrina ante aqueles que dela se aproximam em busca de esclarecimento. Nisso, demonstram não terem lido as advertências veiculadas no trecho “O Esquecimento do Passado”, no cap. 5 de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, nem tampouco o cap. 10 de “Os Mensageiros”, que mostra os prejuízos sofridos por um médium que se deixou levar por essas pesquisas do passado.
Diante disso, pergunta-se: Por que esses Espíritos que agora fazem publicar tantas "revelações" fantasiosas a respeito da vida espiritual, relatando ambientes grotescos, aterrorizantes, pueris e mesmo cenas ridículas, levando muitos incautos à formação de quadros mentais negativos, por que não desenvolvem os palpitantes assuntos tratados por Kardec na Terceira Parte de “O Livro dos Espíritos”, as chamadas “Leis Morais”? Será por falta de conhecimento ou de talento? Há todo um manancial de temas a serem examinados à luz do Espiritismo nessa parte da obra, que poderia ser intitulada Sociologia Espiritual. Por que não apresentam estudos comparativos entre a sociedade terrena e as diferentes organizações sociais no Mundo Espiritual? Por que não desdobram os ensinamentos trazidos por André Luiz a respeito da interação Mundo Físico e Mundo Espiritual, conforme descrito em suas obras, notadamente em “Os Mensageiros”, detalhando o trabalho levado a efeito, na Terra, pelos Espíritos desencarnados com a colaboração de encarnados libertos pelo sono físico? Será que a esses médiuns e aos Espíritos que por eles se comunicam escapa-lhes a consciência do objetivo principal da Doutrina Espírita, que é a revivescência do Evangelho de Jesus aplicado à vida diária como fator educativo do espírito imortal? Entretanto, o que mais se vê são relatos medíocres, fantasiosos, com pretensões de serem revelações ou romances.
Outra vertente muito explorada por Espíritos e médiuns pouco preocupados com a educação moral é a tão falada transferência, para outro planeta dos Espíritos que não assimilaram princípios básicos de fraternidade. Esse planeta, como se fosse uma nave espacial, deveria aproximar-se da Terra a fim de buscá-los. Baseiam-se no fato de a Terra ter recebido, há milhares de anos, um grande contingente de Espíritos vindos de um planeta do sistema Cabra ou Capela, conforme descrição de Emmanuel na obra “A Caminho da Luz”. Mas os Espíritos que fazem os relatos atuais se esquecem de que a nossa Terra não se deslocou de sua órbita para, como um ônibus, para ir lá buscá-los. Afirmativas como essas constituem-se em verdadeiras heresias astronômicas, que são feitas em detrimento do bom senso e da seriedade da Doutrina dos Espíritos.
Por que, em vez de fazerem esses relatos fantasiosos, esses Espíritos não promovem uma campanha no sentido incentivar a educação da juventude, discutindo temas como vida em família, responsabilidade na constituição de um lar? Por que não discutem a sexualidade à luz do Espiritismo? Por que não incentivam a evangelização da infância? Por que não dão notícias detalhadas da vida daqueles que desencarnaram ainda na fase infantil? Por que não incentivam o Movimento Espírita a dar mais atenção ao Espírito recém-encarnado, portanto necessitado de orientação, invés de ficarem descrevendo cenas mórbidas de que teriam participado antes da sua encarnação? É bem verdade que a resposta recebida por Kardec, conforme o item 383 de “O Livro dos Espíritos”, ainda não ecoou suficientemente nas consciências de muitos daqueles que dirigem comunidades espíritas em todos os níveis: "Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo." Então por que esses Espíritos, que se dizem tão interessados em esclarecer, não encetam uma campanha no sentido de ajudar os recém-encarnados?
Por que esperar que ele se torne adulto, que erre, para depois tentar convencê-lo dos valores do Evangelho? Ou, então, aguardá-lo à mesa mediúnica, na condição de sofredor resgatado de zonas umbralinas?
É importante que se estude a obra de Kardec e de médiuns verdadeiramente afinados com os ideais do Espiritismo, ideais esses que estão muito acima da obtenção de lucro com a venda indiscriminada de obras, como se o Centro Espírita, a Livraria Espírita, ou o Clube do Livro Espírita tivessem por finalidade a obtenção de recursos financeiros a qualquer preço. Lembremo-nos de que o sucesso de um centro espírita não deve ser medido pela quantidade de passes que dá, nem pelo volume de água fluidificada que produz, nem pela quantidade de alimentos ou roupas dispensados, mas pelo número de Espíritos encarnados e desencarnados que encaminha rumo ao Bem, conforme ensinado e exemplificado por Jesus.

José Passini
passinijose@yahoo.com.br